segunda-feira, 16 de abril de 2012

Destino: Lua

Na premiação do Oscar deste ano, um dos filmes que surgiu como o principal favorito para grande parte do público foi "A invenção de Hugo Cabret" de Martin Scorsese, baseado no livro de mesmo nome que conta a história de um garoto órfão que tenta a todo custo consertar um autômato (uma espécie primitiva de robô com mecanismos que imitam movimentos, neste caso específico, de uma pessoa) encontrado por seu pai. Seguindo as anotações dele, o garoto tenta o conserto da máquina, mas nesse meio tempo o livro é tomado pelo dono de uma loja de brinquedos da estação ferroviária local, que misteriosamente vê neste livro algo terrivelmente familiar. O garoto, determinado, começa então sua busca em recuperar o livro das mãos do comerciante. Mas no fim das contas, voltando ao assunto, o prêmio de melhor filme do ano acabou indo mesmo para as mãos do filme "O Artista", que por sinal é outro grande filme.

Mas engana-se quem está pensando que o post de hoje é sobre "A invenção de Hugo Cabret"... não é! Hoje trataremos é de Georges Méliès, diretor francês de cinema do começo do século XX e que serviu como principal inspiração para a trama citada acima. Méliès foi um dos que testemunharam o nascimento do cinema, em 28 de dezembro de 1895, na histórica sessão onde os irmãos Lumiére fizeram a primeira projeção de filme da história, que nada mais era do que a exibição de 10 minúsculos filmes (com menos de 1 minuto cada) mostrando cenas rotineiras. Entre elas, foi exibida "A chegada do trem à estação Ciotat", uma das mais famosas e que causou grande comoção no público. O filme de 50 segundos (postado abaixo) é apenas a filmagem de um trem chegando na estação capturada sob um ângulo em perspectiva, mas para o público que não estava acostumado com a projeção, a filmagem era algo tão magnífica que muitos entraram em pânico achando que o trem fosse literalmente entrar na sala pela tela.

Caso não consiga ver o vídeo, clique aqui!

Georges Méliès é considerado um dos precussores do cinema. Entre suas centenas de filmes, o mais conhecido é "Le voyage dans la lune" (Viagem à lua) de 1902, que foi muito popular em sua época e é considerado o primeiro filme de ficção científica da história, além do primeiro a tratar de seres alienígenas. Neste filme, ele utilizou os inovadores recursos de animação e efeitos especiais, frutos da inventividade do diretor.

"Viagem à Lua", que foi baseado em dois romances populares da época ("Da Terra à Lua" de Julio Verne e "Os Primeiros Homens na Lua" de H. G. Wells), é considerado hoje um clássico essencial para os amantes do cinema. O filme conta a história de um grupo de astrônomos que viajam à Lua numa capsula que é lançada por um enorme canhão (haja mira!). Após encontrarem vida alienígena, conseguem escapar e voltam a salvos para a Terra, que os recebe em festa.

A cena da celebração pelo retorno dos astronautas foi uma cena considerada perdida por décadas, mas em 2002 foi descoberta na França uma cópia completa do filme e, para a surpresa de todos, completamente colorido à mão. Este filme foi restaurado e exibido pela primeira vez em 2003, no Festival de cinema mudo em Pordenone, na Itália.

Apesar de respeitado por diversos cineastas de renome, como Charles Chaplin, Georges Méliès passou por maus bocados na década de 20. Em 1923 teve sua falência decretada e viu o seu querido teatro Robert Houdin ser demolido. Méliès quase caiu no limbo do esquecimento ainda em vida até que, no fim dos anos 20, sua substancial contribuição ao cinema foi devidamente reconhecida pelos franceses e ele foi presenteado com a "Legião de Honra", do qual recebeu um apartamento sem custos onde passou seus últimos anos de vida. Faleceu em 1938 deixando um legado de mais de 550 filmes, nos quais ele financiava, dirigia, fotografava e atuava em quase todos eles.

Veja abaixo "Viagem à Lua" (1902), versão original restaurada e colorida a mão, com trilha sonora do Air.

Caso não consiga ver o vídeo, clique aqui!