Eu não sou muito chegado em ficar colocando vários posts seguidos sobre o mesmo assunto (no caso de hoje, sobre filmes), mas desta vez abro uma exceção porque o momento tem muito a ver com o que vai ser falado e portanto, será mais ou menos um post especial. Hoje vamos falar do filme "A Luta pela Esperança" (Cinderella Man), baseado na vida do lutador de boxe James J. Braddock, que nos anos 30 virou um símbolo de superação americana após a grande depressão e um ídolo do esporte. Ultimamente me lembrei várias vezes desse filme, primeiro por causa de um comentário que fiz no blog da nossa amiga Vanuza sobre favela, depois sobre o atual momento de crise nas bolsas de valores iniciada pela especulação no mercado hipotecário dos Estados Unidos e por fim, com a eleição histórica de um presidente negro para suceder um dos piores presidentes da história estadunidense, que já é tão "homenageado" aqui no nosso blog em diversos momentos. Mas como diria "Jack - o estripador", vamos por partes!
"A Luta pela Esperança", como já dissemos no começo, é um filme que mostra a escalada do pugilista James J. Braddock, que ganhou o apelido de Cinderella Man, fazendo uma analogia com o conto de fadas Cinderela, por conta das duras penas que ele e sua família passaram neste período retratado no filme, superado com muito esforço (literalmente). Eu imagino o que muitos de vocês (que não conhecem o filme) devem estar pensando agora: "Ah!! Mais um filme de boxe, não!!!".
Mas aqui, o boxe trata-se apenas do fio condutor da trama... o grande ponto do filme é mostrar a "grandeza" de Jim Braddock, lutador talentoso e tido como uma grande promessa do boxe no final dos anos 20, que é sensivelmente afetado pela crise da quebra da bolsa em 1929, assim como tantos também foram neste mesmo período, e que foi obrigado a passar por maus bocados sem ter como sustentar dignamente sua família. Depois da quebra da bolsa, Braddock foi vendo sua renda minguar, não conseguia treinar como deveria, não conseguia se alimentar direito por culpa da falta de dinheiro e a sua carreira e vida pessoal foi ao fundo do poço.
O filme mostra muito bem o drama de um lutador que só sabia fazer isso da vida e que por causa desse abalo econômico que assolava o país e o resto do mundo, se viu obrigado a se virar para sustentar a família e mantê-la unida. O protagonista, o ator Russell Crowe, realiza um belíssimo trabalho e se entregou ao papel de tal forma que teve que emagrecer 23 kg, treinando duro sob a supervisão do ex treinador de grandes pugilistas como Muhamad Ali e Sugar Ray Leonard.
As lutas de James Braddock no filme vem durante a transição deste período negro de sua vida pessoal e o diretor (Ron Howard de "Uma Mente Brilhante"), mostra muito bem que Braddock não luta por paixão ao esporte, por fama, por status ou algo do tipo... ele luta para levar comida pra casa, pra não voltar ao sacrifício da miséria, das privações que seriam impostas para sua família e para si. Até conseguir suas lutas neste período, Braddock foi obrigado a trabalhar temporariamente nas docas, sem emprego garantido e obrigado a engolir o orgulho diversas vezes para dar um mínimo de conforto para sua família. O filme é emocionante e quando começamos a achar que teremos coisas óbvias, nos surpreendemos com a forma como a história e o clima criado nos iludem.
Relação com a história
Agora vamos ao ponto, aquele que falei no início, de ter me lembrado tanto deste filme. Outro dia a Vanuza tinha feito um post sobre as favelas do Rio, da exploração econômica do tema, do preconceito, etc, o que me fez lembrar imediatamente da Hooverville (que também é mostrada no filme). Esse apelido vem de um trocadilho com o nome do então presidente dos Estados Unidos, Herbert Hoover, tido como um dos piores presidentes daquele país, que explicarei melhor pra frente.
Em 1930, após a quebra da bolsa, Hoover pediu ao Congresso uma diminuição das tarifas alfandegárias sobre produtos estrangeiros não-perecíveis, lei que tinha sido recém aprovada, e mesmo tendo um abaixo assinado de mil economistas que achavam que o caminho era justamente o inverso, Hoover aprovou a lei acreditando que assim eles conseguiriam reduzir a competição dos produtos estrangeiros, só que os outros países reagiram e tomaram medidas parecidas, o que fez as exportações americanas despencarem. O desemprego chegou a bater na casa dos 25% no país. O ponto que fez com que Hoover se tornasse o grande vilão foi que ele acreditava que o país se recuperaria sem a intervenção econômica do Governo, rejeitando um monte de leis aprovadas, se justificando por achar que o governo teria mais poderes do que o necessário.
Como uma bola de neve, milhões perderam seus empregos, suas fontes de renda e foram obrigadas a morar em favelas, as tais "Hoovervilles" que citamos antes. Pra quem não conhece este lado da história, chega a soar estranho pensar em favelas nos Estados Unidos! É claro que sobrou para os chefes de estado dos principais locais atingidos, que se tornaram os grandes culpados pela crise, por não terem feito o que era preciso (aos olhos do povo). Até que em 1933 o povo respondeu elegendo Franklin Delano Roosevelt para salvar a pátria através do famoso New Deal, uma série de leis que forneciam ajuda social, empregos através de parcerias entre governo, empresas e consumidores, além de reformar o sistema econômico e governamental americano, prevenindo que futuras recessões pudessem ocorrer novamente.
Aí entram as coincidências... no auge da grande depressão da década de 30 o desemprego foi subindo, passando pelos 9% até bater nos 25%. Hoje, com essa atual crise da bolsa, o desemprego bate a casa dos 6,6% (dados de agora há pouco, pescado no site da Folha de SP), o pior em 14 anos. Hoover que foi considerado o pior presidente americano, tem hoje ameaçando o seu "posto" a feroz concorrência de George W. Bush, que enfiou o país em duas guerras sem fim (Afeganistão e Iraque), sem motivos muitos claros, além de ter o "azar" de estar sentado na poltrona da presidência no momento dessa crise toda, com a recessão batendo na sua porta. Depois de um presidente não lá muito esperto, em 1933 entra Roosevelt pra tirar o time do buraco. Hoje, depois de um presidente não lá muito esperto, entra Barack Obama com promessas de tirar o time do buraco. Depois de tanta coincidência, agora me digam como não lembrar de "A Luta pela Esperança"?
Além deste filme de hoje ser uma bela lição de superação e uma amostra muito real de como era dura a vida nessa época da história, é uma história belíssima também. Vejam a seguir o trailer:
Caso não consiga ver o trailer, clique aqui!
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Boa tarde, amigo!
ResponderExcluirComo são as coisas, não é mesmo? Quando fiz lá aquele post, imaginei:"-Acabou! Ninguém vai passar nem perto. Pobre, negro, favelado, excluído não dá ibope. Balancei os ombros e tasquei lá!"
E, numa reviravolta Histórica, Obama entra para a Casa mais importante do mundo, um homem, uma família negra de ideais democráticos. E a TV fala de "virada de página na História do mundo"; "ressuscitam" Martin Luther King que lutou e morreu por um SONHO...Malcriado, meu querido, estou muito grata e emocionada, posso voltar depois?
Você tem um blog dos mais sérios daqui e não vou comentá-lo sob efeito da adrenalina, rssss.
Carinho enorme!Bjsss
(Gosto de filmes sobre Boxe, volto, volto já!)
Muito interessante o seu post, amigo. Você está superando a mestra. Também fiz um post e pus a sua obra. Gostaria que fosse ao meu Blog e desse a sua opinião.
ResponderExcluirUm beijo,
Renata
Grande Malcriado! Totalmente excelente sua postagem! E realmente em um momento mais do que oportuno.
ResponderExcluirTem um momento no filme que me ficou na memória como algo emblemático; é quando, finalmente, depois de alcançar algum sucesso, ele volta à fila do seguro-desemprego e devolve o dinheiro que tinha recebido! Fantástico!! Como esperar por uma atitude dessas no mundo de hoje? Afinal, "temos que levar vantagem em tudo, certo?"...
Lembro que um amigo achou esse filme piegas... Bem, esse meu amigo é um cara muito bacana e muito inteligente, mas meio perdido, não pára em emprego nenhum; bem que ele poderia se sepelhar nessa história de superação e no raro caráter de James Braddock.
Valeu, meu amigo, pela excelente "aula" e por tudo o mais.
Um grande abraço.
Até!
Oi, voltei! E com a coluna dolorida, mas a cabeça ainda parece funcionar.Pois bem, amigo, Russel Crowe divide mesmo as opiniões, mas seu talento é inegável. Há pouco o vi contracenar com Denzel Washington (também polêmico, mas com ótimas apresentações); nossa, Russel era um policial perfeito e Denzel um bandidaço que não ficava atrás.
ResponderExcluirBoxe: De Niro, em "Touro Indomável", como negar também esse talento? O mesmo Denzel, se superando em "Hurricane-O Furacão" (1999), baseado na vida real; preso por trinta anos, por ser negro, na América ultra-racista ainda com Luther King vivo e combativo, procure vê-lo, eu peço, porque se ainda houver em você ou outra pessoa a dúvida da capacidade interpretativa de Denzel, será totalmente desfeita por esse ótimo papel. Bem, para não ficarmos só em Hollywood, voltemos no tempo e lá pelos idos de 60 temos, Alain Delon, mais que um rostinho bonito,estará atuando, seriamente, em "Rocco e Seus Irmãos", película rodada na Itália e muito prestigiada pela crítica e público à época.
Boas dicas nos trazes sempre, e saiba que fiquei meio ruborizada com a citação do meu nome, rsss...e vamos nessa! Semana de muitas pesquisas aguardadas por nós com muita ansiedade!!!Bjs
Ah! A depressão americana? Desastre total na década de 30; muitos ex-ricos se suicidando; mas detida pelo pulso forte e a mente inteligentíssima de Roosevelt. Assisti a um documentário de um velhinho sobrevivente da mesma que relatava de forma clara e emocionada a fome cruel que quase o matou e a todos à sua volta. Eles superaram, mas nos deixaram opções nessa questão? O que você acha???
ResponderExcluirAbraços!!!
Embora as histórias de lutadores sejam muito parecidas entre si, nunca me aborreço vê-las. Descobri o filme Mãos de Pedra e adorei. Sou fã deste tipo de personagens. Tem uma história que pode fazer você rir e chorar. Além disso, o elenco e a direção são excelentes! Este tema é um clássico do cinema.
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