sexta-feira, 24 de julho de 2009

Sarney e sua vida pregressa

Sarney na mira da câmera de Gláuber Rocha

E hoje vamos falar de política aqui no "Arte de Quem"... e já que vamos tratar do assunto, o que é mais adequado do que falar de alguém que está na mira dos holofotes, de um político dedicado e protetor da causa familiar do que o Sr. José Sarney? Através de atos secretos (ou não), o clã Sarney ocupa cargos públicos no Senado na maior naturalidade há algum tempo, o que se tornou um escândalo recentemente... e não pára de crescer. Mas como o brasileiro é um povo sem memória, aí está o presidente do Senado e aqui está a postagem, para lembrar dos fatos.

Este senhor que começou na vida política em 1950 e foi eleito pela primeira vez deputado federal em 1955. Já foi membro da UDN (da ditadura de Getulio Vargas), da ARENA (da ditadura militar), do PDS (partido que barrou as "diretas já!") e quando virou moda, pulou pro PMDB e foi presidente da república ao assumir o posto depois da morte do eleito Tancredo Neves. Quando deixou o cargo, deixou também um país com o alarme ligado. E como todos sabem, hoje ele está sendo caçado em campo aberto pela opinião pública. Sobre o escândalo dos atos secretos, foi justificado de que isso fazia parte de sua pregressa, ou seja, anterior à sua eleição para a presidência do Senado e, pela boca do próprio, que ele não poderia ser julgado! Como não?

Mas já que a vida pregressa do Exmº Sr. Presidente do Senado não pode ser julgada, vamos tocar em alguns detalhes importantes como, por exemplo, o fato de que na década de 80, quando presidente, autorizou a distribuição de concessões de TV, da qual a sua própria família detém 3 retransmissoras de televisão afiliadas à Rede Globo, fato citado no documentário "Brazil - Muito Além do Cidadão Kane" (veja o filme online aqui!) produzido pelo Channell 5 (e já publicado aqui no Arte de Quem), o grande pesadelo da rede Globo, que faz de tudo para colocá-lo no limbo do esquecimento.

A vida pública de Sarney, fora dos escândalos, também não é nenhum objeto de orgulho. Quando assumiu a presidência da república, no lugar do então recém falecido Tancredo Neves, candidato eleito, sua posse foi um tanto tensa pois havia dúvidas constitucionais sobre se seria ele ou o presidente da Câmara dos Deputados na época, Ulysses Guimarães, quem deveria assumir o posto. Foi decisivo para sua posse o apoio do general Leônidas Pires Gonçalves, indicado por Tancredo Neves para Ministro do exército, que apoiou a posse de Sarney. O mandato de Sarney ficou marcado como o retorno da democracia, mas também de uma crise econômica que tinha uma superinflação galopante, alcançando espantosos 2.751% ao mês. Sob sua gestão, no Maranhão a coisa também não foi diferente: segundo a revista Veja, "o resultado desse domínio é visível a olho nu: a família Sarney está milionária, mas o Maranhão lidera o ranking brasileiro de subdesenvolvimento".

Parece perseguição, mas a revista Veja também publicou, desta vez em 14 de maio de 1986 na reportagem "Debaixo do Pano", sobre o emprego da sua filha (Roseana Sarney, atual governadora do Estado do Maranhão após o TSE cassar o eleito Jackson Lago), funcionária permanente do Senado, mas sem qualquer tipo de concurso ou publicação no Diário Oficial (ou seja, por um ato secreto, exatamente o mesmo motivo pelo qual Sarney vem perdendo o sossego atualmente). Roseana "ganhou" o emprego um pouco antes de seu pai assumir o cargo de presidente da república, num escândalo que ficou conhecido na mídia como "trem da alegria", mas que não deu em nada.

Leia a reportagem na integra (Clique na imagem para ampliá-la)

Como membro da Academia Brasileira de Letras, também sobram críticas para ele. Autor de 22 obras, já foi criticado duramente por Millôr Fernandes, que disse que sua obra "Brejal dos Guajás" era "uma obra-prima sem similar na literatura de todos os tempos, pois só um gênio poderia fazer um livro errado da primeira à última frase (...) em qualquer país civilizado Brejal dos Guajas seria motivo para impeachment".

Por conta dos atuais escândalos, foi criado um site com a campanha virtual "Fora Sarney!" onde é demonstrado com todo ardor o protesto dos visitantes e participantes, mas não é a primeira vez que criam campanhas (hostis) em homenagem ao presidente do Senado. Em 2006, também houve a campanha "Xô, Sarney!" no Amapá, estado pelo qual foi eleito senador. E as patadas vem até de fora do país, como foi dada pela revista britânica "Economist" na reportagem "Onde os dinossauros ainda vagam" que fala sobre sua eleição no Senado brasileiro afirmando que a "eleição de Sarney no Senado é vitoria do semifeudalismo", e um passo pra trás no desenvolvimento do país.

Na verdade, nunca deixou de faltar pedras no sapato de Sarney... em 1966, o cineasta brasileiro Glauber Rocha produziu o documentário "Maranhão 66", onde foi filmado a sua posse como governador do Estado, mesclando cenas da dificuldade do povo maranhense no dia a dia, o que fez o atual presidente do Senado não ficar muito contente com o filme, posteriormente. Este documentário, que foi adicionado como parte do material extra no relançamento do DVD "Terra em Transe" de Gláuber Rocha, é a origem das cenas que veremos a seguir.

Caso não consiga ver o vídeo, clique aqui!

Fontes: Wikipédia, Folha Online, Revista Veja, Fora Sarney, The Economist e o documentário "Muito Além do Cidadão Kane"

5 comentários:

  1. Que post, Edu!
    Não, post é pouco, que Super-Reportagem, hein?
    Ah, tem mais uma engraçadíssima: o "escritor" Sarney escreveu um tal de um livro também chamado "Marimbondos de Fogo" e não lembro se foi mesmo o sacana(no bom sentido) do Millôr, sei lá, quem falou que ele tomasse cuidado com os tais marimbondos, rssss. Taí o resultado! Quem mandou ele bulir com os bichinhos?
    Você se inspirou em mim para elaborar essa maravilha? Que honra!
    Adorei!!! Te admiro muito, colega!
    *Eu já tinha assistido o vídeo do Gláuber, mas vou revê-lo.Bjsssss

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  2. Van!
    Obrigado pelo elogio! Pois então... quando estávamos falando da ABL e tocamos no nome da figura, me bateu a idéia. O Millôr é sem dúvida um gênio, e o melhor, com muito bom humor!!! Sobre os "Marimbondos de Fogo", o programa Casseta e Planeta uma vez disse que este livro fazia parte de uma trilogia: Marimbondos de Fogo, Marimbondos de Porre e Marimbondos de Ressaca. hehehe
    Bjão!

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  3. Oi,

    Vim atras da ideia louca que li no comentário do blog da Vanuza.
    ADOREI NO SUPERLATVO.ADOREISÍSSIMO!!!!!!!!!
    Super trabalho de pesquisa.Reportagem limpa.
    Que dó da gente de ter gente desta não categoria empalamado no Senado e enfardado na Academia.

    Passe por lá...

    Com carinho,

    Cris

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  4. ...E o filme do Glauber.Genial.
    Feliz com os brasileiros acordados,como voce.
    Somos Brasil!
    -Por que meu Deus é assim?

    Cris

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  5. Cristina: Então Cris... o Brasil ainda precisa aprender a criar anticorpos contra esses canalhas. Infelizmente, enquanto nós queremos que o país mude, entra uma outra pergunta em cena: Será que o país quer mudar? rs

    Não duvido nada isso tudo acabar em pizza (temperada com pré-sal)rss

    Bjão!

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