O nosso assunto de hoje é o belíssimo filme "Persépolis", que concorreu ao oscar de melhor animação, prêmio que acabou ficando com o filme Ratatouille (que trataremos aqui em outra oportunidade). Na verdade, Ratatouille foi até cogitado a disputar como melhor filme, mas decidiu que concorreria como melhor animação para não perder força, caso disputasse o prêmio principal da academia. Ou seja, podemos dizer que o nosso filme de hoje deu o infeliz azar de concorrer no mesmo ano com um filme que estava acima da disputa.
Esta é na verdade uma animação muito mais voltada para adultos do que apenas um filme infantil, que naturalmente supomos ao vê-lo como animação. De fato, a estória é uma adaptação do romance autobiográfico em quadrinhos da escritora iraniana Marjane Satrapi, que também dirige o filme.
Persépolis conta a estória de Marjane, uma jovem de uma família de pais modernos e cultos, que se mostra muito precoce. Focado sob o seu ponto de vista, o filme mostra o período pré-revolução iraniana, passando pela queda do Xá e do seu regime e revolução islâmica de Khomeini (1979), onde a personagem principal vai amadurecendo e vivenciando o período dos "Guardiões da Revolução", que controlam como as pessoas devem agir e se vestir. Com isso ela vai aprendendo a lidar com as responsabilidades dos seus atos e modos de pensar.
Um dos grandes baratos do filme é mostrar com muita propriedade a enorme mudança no modo de vida do Irã nesse período, com as mulheres sendo obrigadas a usar véu, a não ter voz ativa, etc, sem contar a dificuldade de acesso à cultura, também tratada com muito bom humor, como por exemplo, quando Marjane decide comprar a fita de uma banda (Iron Maiden) como se fosse comprar drogas no mercado negro, que é fato. No novo regime, era proibido os costumes ocidentais, tais como usar mini-saias, maquiagem, bailes, ouvir músicas ocidentais (como o rock), jogo, cinema, etc, além da reintrodução dos castigos corporais pra quem violasse os preceitos da sharia (sexo fora do casamento, adultério, consumo de álcool) . O filme nos força a refletir sobre os absurdos dos regimes totalitários, mas sem ser muito pesado. Persépolis é divertido, emocionante, dramático e nos faz pensar.
Só pra dar uma idéia do tamanho da repressão do período, eram "premiados" com a pena de morte os defensores do Xá, ministros e militares do regime anterior (naturalmente), prostitutas, homossexuais, marxistas (por defenderem o laicismo do Estado) e membros de outras igrejas (por exemplo, judeus), entre outras minorias. Portanto, observando por este lado, é bem compreensível a afirmação do atual presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad que disse outro dia pro mundo todo ouvir que no Irã não tinha homossexuais. Claro... se eles já foram todos mortos!!!
Ao ver o filme, um amigo meu fez um comentário interessante comparando com a dificuldade que era ter acesso no interior da Bahia nos anos 80 e 90 às novidades da cultura (como por exemplo o disco de uma banda internacional), até certo ponto parecida com a retratada no filme (guardada as proporções, é claro). Tanto o comentário desse meu amigo quanto o próprio filme, me fez pensar no quanto desigual é esse mundo em que vivemos (e que muitas vezes, mal sabemos do que se passa nele).
Vejam o trailer e tirem suas próprias conclusões:
Caso não consigam ver o trailer, clique aqui!
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Adorei, amigo, agora só falta vc ir ao meu Blog, senão te deslinko e não venho mais aqui. A sua nova obra de arte está postada lá. Tá de birra comigo? Se estiver, me diga por quê.
ResponderExcluirBeijos,
Renata
Caríssimo Malcriado, nessa semana eu vi esse trailer no DVD de um filme que assisiti e fiquei realmente curioso; lembro do nome do flme e de que foi indicado ao Oscar, mas nada mais. Pelo trailer tirei aqui minhas conclusões, mas seu texto ajudou a me situar e aumentou a minha curioidade. Agora só tenho que esperar que seja lançado em DVD e que o DVD chegue aqui nessas lonjuras... Já foi pior, a locadora que tínhamos aqui sobrevivia do acervo de filmes antigos da coleção de um dos moradores, que resolveu compartilhá-los com a galera; como a demanda aumentou muito, nós conseguimos um investimento comunitário e, desde o início deste ano, já contamos com vários lançamentos, mesmo que com algum atraso.
ResponderExcluirÉ isso aí, meu amigo, divulgar a Cultura dá a maior onda!! (rsrsrsrsrs)
Abração!
Amigo, essas animações e filmes sobre os países muçulmanos, em particular, os iranianos, são como buracos de fechadura por onde podemos ver, nem que seja, uma mímina parcela desses povos tão isolados do mundo ocidental. Evito fazer juízo de valor porque por aqui também temos muitas mazelas insanáveis.Bjs
ResponderExcluirOlá, boa tarde!
ResponderExcluirInteressantíssimo blog.
Parabéns!
Gostei!
ResponderExcluirVocê me fez ficar pensando...